Igreja de Santa Maria do Castelo









Introdução
A Igreja de Santa Maria do Castelo ergue-se no coração da cidade antiga de Tavira, um testemunho do rico passado multifacetado do Algarve. Construída após a conquista cristã de Tavira, a igreja assenta sobre alicerces islâmicos anteriores. Hoje, guarda lendas, memoriais, arcos góticos e azulejos barrocos. Ao entrarmos em Santa Maria do Castelo, partilhamos séculos de fé, contos populares e a história viva da vida comunitária de Tavira.
Destaques Históricos
🏰 Das Mesquitas aos Cavaleiros: Primórdios Medievais
A Igreja de Santa Maria do Castelo, em Tavira, ergue-se onde outrora se encontrava a principal mesquita da cidade, marcando uma reviravolta dramática em 1242, quando conquistadores cristãos liderados por D. Paio Peres Correia tomaram a cidade. A tradição conta que Correia, mestre da Ordem de Santiago, ordenou a construção desta igreja como lar espiritual e tributo aos sete cavaleiros mortos na feroz batalha. As suas lápides tumulares de pedra ainda são visíveis, imortalizando estes lendários defensores.
“A capela-mor da igreja contém os túmulos de D. Paio Peres Correia e dos sete cavaleiros que morreram em 1242.”
— VisitPortugal, Portal Oficial de Turismo
🏗️ Grandeza Gótica e Estilos em Evolução
A forma mais antiga da igreja refletia as linhas robustas e simples do gótico paroquial português: uma planta de três naves, abside poligonal e um impressionante portal ogival com capitéis foliares esculpidos — ainda hoje admirados. Notavelmente, o seu portal principal e rosácea sobreviveram a séculos de alterações. Por volta de 1500, Santa Maria do Castelo misturava características do gótico tardio e manuelino: a Capela do Senhor dos Passos acrescentou uma abóbada de nervuras, combinando o orgulho local com as correntes artísticas da época.
💥 Destruição do Terramoto e Renascimento Barroco
O Terramoto de Lisboa de 1755 deixou Santa Maria do Castelo em ruínas. O bispo D. Francisco Gomes do Avelar liderou um renascimento; em 1790, o arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri transformou a igreja numa maravilha barroca e neoclássica — mas harmonizada com a estrutura gótica original. A torre do relógio, possivelmente um minarete convertido, ainda ancora o lado norte, enquanto esplêndidos azulejos barrocos sobrevivem na capela, testemunhando silenciosamente a antiga prosperidade de Tavira.
“No início da década de 1790, o Bispo – com o arquiteto Francisco Xavier Fabri – tinha essencialmente reconstruído Santa Maria do Castelo.”
— SIPA / DGPC (Sistema de Informação para o Património Arquitetónico / Direção-Geral do Património Cultural) Estudo Arquitetónico
🕰️ Redescoberta Moderna e Património Vivo
Santa Maria do Castelo não parou de revelar os seus segredos. Em 2021, restauradores descobriram uma estrutura barroca escondida atrás do altar — uma pirâmide de pedra com degraus pintados com motivos do século XVIII, selada durante dois séculos. Hoje, as restaurações em curso salvaguardam o telhado de madeira da nave e as paredes seculares. As histórias locais permanecem, enquanto os mais velhos recordam o "toque das almas" (sino que tocava ao entardecer) e as procissões marianas especiais que protegiam a cidade de pestes e secas.
💡 Dica para Visitantes
A sua visita a Santa Maria do Castelo combina maravilhosamente com o vizinho Castelo de Tavira. Suba à torre da igreja para uma vista sobre o coração medieval da cidade e reflita sobre as histórias guardadas nos túmulos e azulejos.
Cronologia e Contexto
Cronologia Histórica
- Anterior a 1242 – Grande mesquita mourisca ergue-se no local em Tavira.
- 1242 – Conquista cristã de Tavira; a tradição diz que a igreja foi fundada por D. Paio Peres Correia.
- 1242–1245 – O Rei Sancho II concede Tavira e a igreja à Ordem de Santiago.
- Final do século XIII – Igreja gótica construída; torna-se a principal igreja paroquial de Tavira.
- Séculos XIV–XVI – Renovações góticas e manuelinas; capelas e abóbadas adicionadas.
- 1718 – Túmulo mourisco com espada encontrado sob a igreja.
- 1755 – Devastador Terramoto de Lisboa; igreja danificada.
- Década de 1790 – Grande reconstrução barroca-neoclássica liderada pelo Bispo Avelar e pelo arquiteto Fabri.
- 1910 – Classificada como Monumento Nacional de Portugal.
- 2021–2024 – Descoberta de estrutura barroca escondida; grandes projetos de restauro em curso.
Fundações em Camadas: Continuidade e Adaptação
A Igreja de Santa Maria do Castelo encapsula a evolução de Tavira de uma cidade islâmica para um símbolo do Portugal cristão. A sua construção inicial, substituindo a mesquita, reflete a transformação deliberada típica do período da *Reconquista*. A orientação ligeiramente enviesada da igreja medieval é uma evidência de que o seu layout ainda pode preservar partes da planta da antiga mesquita. Esta adaptação de espaços sagrados não foi exclusiva de Tavira, mas forma um padrão nas terras fronteiriças contestadas da Ibéria, onde a conquista exigia integração religiosa e cívica.
Igrejas Defensivas: Ordens e Autoridade
Logo após a sua fundação, Santa Maria do Castelo ficou associada à Ordem de Santiago, que governou grandes áreas do Algarve. A influência desta ordem militar-religiosa é visível não só nos túmulos, mas também potencialmente na fachada fortificada de duas torres, uma característica partilhada por outras igrejas como Santa Maria do Olival em Tomar. A igreja de Tavira funcionava, assim, como centro espiritual e baluarte, sublinhando a natureza turbulenta e estratégica do Algarve medieval.
Resiliência Através do Desastre: Terramoto, Renovação e Hibridismo
O destino da igreja foi profundamente moldado pela devastação do terramoto de 1755, que forçou uma reconstrução quase total. A mistura de elementos góticos, manuelinos, barrocos e neoclássicos vistos hoje é um produto de resiliência. Em vez de apagar o passado, os construtores sucessivos harmonizaram estilos, criando um palimpsesto visual que ecoa a identidade duradoura de Tavira. A justaposição de portais medievais e rosáceas dentro de uma estrutura barroca convida à comparação com outras igrejas do sul—como a Sé de Silves, igualmente reimaginada após o desastre—ou a igreja-mesquita de Mértola, que retém muito mais arquitetura islâmica dentro das suas paredes cristianizadas.
Significado Sociocultural e Memória Comunitária
Santa Maria do Castelo é mais do que um artefacto; molda a paisagem cívica e espiritual de Tavira. Durante séculos, a igreja foi o local de rituais que marcaram o ritmo da vida local: batismos, funerais e procissões que reforçaram tanto a fé como a comunidade. A tradição oral mantém viva a lenda dos Sete Cavaleiros — transformando a igreja num panteão e num local de contos locais. Rituais como o "toque das almas" e a veneração de Nossa Senhora do Castelo preservam o património intangível entrelaçado com as pedras tangíveis.
Contexto Comparativo: Única, Mas Representativa
Embora existam paralelos com Silves e Mértola, Santa Maria do Castelo destaca-se pela sua mistura de monumentalidade, arte em camadas e adaptação contínua. Ao contrário de Mértola, que preserva a estrutura islâmica visível, a igreja de Tavira expressa o seu passado em camadas através da lenda, da arquitetura adaptada e do uso contínuo. A sua jornada da mesquita mourisca à fortaleza gótica à peça central barroca espelha a narrativa mais ampla de Portugal de conquista, criatividade e revivalismo. Compreender estes padrões interligados aprofunda a nossa apreciação do papel distinto e vital do local na memória local e nacional.