Santuário da Peninha







Introdução
O Santuário da Peninha ergue-se no topo das montanhas varridas pelo vento de Sintra, onde encostas rochosas encontram vastas vistas atlânticas. Este local com séculos de história mistura história profunda, lendas locais e paisagens de tirar o fôlego. Por gerações, peregrinos e amantes da natureza escalaram a Peninha em busca de consolo ou admiração. Hoje, podemos traçar as histórias em camadas por trás deste santuário notável — uma parte única da paisagem patrimonial de Portugal.
Destaques Históricos
⛰️ Inícios Medievais
O Santuário da Peninha começou no século XII, quando Pêro Pais, companheiro do primeiro rei de Portugal, fundou uma ermida remota dedicada a São Saturnino. Arqueólogos descobriram sepulturas e alvenaria medievais, confirmando o uso sagrado primitivo da Peninha. Em 1192, cartas régias mencionam um eremita chamado Pedro que vivia aqui – prova do fascínio espiritual duradouro da Peninha já naquela época. O primeiro eremita acabou por se afastar, incapaz de encontrar total solidão nesta rocha varrida pelo vento.
“A cela da Peninha foi outrora o retiro de eremitas rústicos, santificando a rocha e o vento.”
— Arquivo de Sintra
🌄 Lenda e Renovação
No século XVI, a história da Peninha tomou um rumo místico. A lenda local fala da aparição da Virgem Maria a uma pastora surda-muda, concedendo-lhe o dom da fala e pondo fim a uma fome. A sua aldeia agradecida colocou uma estátua no topo da rocha, dando início a uma tradição de peregrinação e devoção. Mesmo as tentativas de mover a estátua falharam – a Virgem ‘regressava’ sempre ao cume, reforçando a Peninha como o seu santuário escolhido.
“Três vezes a estátua foi movida… cada vez ela regressava às alturas.”
— Tradição local
🙏 Esplendor Barroco e Peregrinação
Durante os séculos XVII e XVIII, o Santuário da Peninha floresceu numa joia da arquitetura barroca, especialmente sob o pedreiro-eremita Frei Pedro da Conceição. Apoiado por esmolas locais e pelo rei Pedro II, construiu a capela de pedra que ainda hoje se mantém de pé. Embora seja uma estrutura de pedra simples no exterior, no interior deslumbra com painéis de azulejos azuis e brancos que retratam cenas da vida da Virgem e intrincadas incrustações de mármore – verdadeiros tesouros da tradição artística portuguesa. As peregrinações anuais prosperaram durante gerações, unindo as comunidades costeiras e montanhosas numa devoção partilhada.
🏰 Sonhos Românticos e Renascimento Moderno
No século XX, o milionário Carvalho Monteiro tentou transformar a Peninha no seu próprio refúgio semelhante a um castelo, construindo um "palacete" (pequeno palácio) fantasioso, mas inacabado, ao lado da antiga capela. Embora nunca tenha sido concluído, a sua loucura romântica permanece como uma sentinela silenciosa sobre a costa. Hoje, o santuário e o parque circundante são património público, salvaguardado pelas autoridades de conservação de Sintra. A restauração em curso visa permitir que os futuros visitantes experimentem o mistério e a maravilha da montanha.
💡 Dica para Visitantes
Embora o interior da Peninha permaneça fechado para restauração, o exterior e as vistas panorâmicas estão abertos – num dia claro pode ver o Cabo da Roca e até as ilhas Berlengas. Leve um casaco: o vento no cume pode surpreender em qualquer altura do ano.
Cronologia e Contexto
Cronologia Histórica
- Século XII – Pêro Pais estabelece a primitiva ermida de São Saturnino.
- 1192 – O rei Sancho I concede carta régia ao eremita Pedro para a Ermida de São Saturnino e terras vizinhas.
- Século XVI – A lenda da aparição mariana traz nova devoção; os aldeões erguem uma estátua e iniciam tradições de peregrinação.
- 1558 – Visita régia reconhece o estatuto sagrado da Peninha.
- 1673 – A capela anterior desmorona após um tremor; a reconstrução é iniciada.
- 1690–1711 – O irmão Pedro da Conceição constrói a capela barroca ricamente adornada com azulejos e mármore; inscrição e azulejos datados de 1690 e 1711.
- 1781 – O santuário é incorporado nos bens da Coroa pela rainha Maria I.
- 1834 – As ordens religiosas são dissolvidas; o local passa para mãos privadas.
- 1892–1918 – Comprado pelo Conde de Almedina, depois por Carvalho Monteiro, que inicia um palácio nas proximidades (inacabado).
- 1991 – O Estado Português adquire toda a propriedade; integra-a no Parque Natural de Sintra-Cascais.
- 2017 – Parques de Sintra e Cascais assinam protocolo para restaurar o santuário e a paisagem natural.
Evolução de Ermida a Centro de Peregrinação
A transformação da Peninha reflete padrões mais amplos nas paisagens sagradas portuguesas. Desde as suas raízes medievais como refúgio para eremitas solitários—documentadas em cartas como a de 1192—a Peninha evoluiu para um local de devoção pública inspirado em histórias de milagres. A lenda da aparição mariana, embora não verificável, espelha fenómenos semelhantes em santuários por toda a Península Ibérica, solidificando a identidade local em torno de uma narrativa partilhada de intervenção divina.
Contra-Reforma e Arte Barroca
A grande reconstrução da Peninha no final do século XVII alinha-se com o ethos da Contra-Reforma de Portugal, que enfatizava altares visíveis da fé em áreas remotas. O patrocínio real foi significativo: o apoio do rei Pedro II trouxe não só prestígio, mas também inovação técnica. O arquiteto João Antunes, trabalhando para o rei, introduziu a incrustação de mármore florentino—um luxo raro em capelas rurais. Os azulejos do mestre pintor Manuel dos Santos foram também produtos das principais oficinas de arte de Lisboa, demonstrando como a escala modesta da Peninha não impedia a alta arte. O santuário funcionava, assim, como uma extensão rural da renovação religiosa barroca, ligando a cidade e o campo.
Peregrinação, Rituais e Laços Comunitários
As romarias anuais da Peninha, com procissões de várias aldeias, fortaleceram os laços em toda a região de Sintra. Tais eventos refletiam tradições medievais de penitência, onde a peregrinação envolvia tanto dificuldades como celebração—esforço físico em caminhos íngremes, orações coletivas e feiras animadas no topo. O papel do santuário como posto de vigia marítimo também o ligava às necessidades práticas da vida costeira, misturando o sagrado com as exigências quotidianas.
Património, Folclore e Identidade Moderna
À medida que Portugal se secularizou nos séculos XIX e XX, as funções religiosas da Peninha diminuíram, mas o seu significado cultural aprofundou-se. Escritores e artistas românticos encontraram inspiração no seu cenário dramático; o folclore local sobre tesouros enterrados e fantasmas reforçou a sua aura mística. O palácio inacabado de Carvalho Monteiro é emblemático do nacionalismo romântico e da noção de que a natureza e a lenda juntas definem o património de um povo. Ao contrário das grandes propriedades aristocráticas, a história em camadas da Peninha—ermida, local de peregrinação e loucura romântica—torna-a um palimpsesto de identidades em mudança.
Desafios de Preservação e Sustentabilidade
A localização da Peninha é tanto a sua glória como a sua vulnerabilidade. Expostas aos ventos atlânticos e ao nevoeiro, as cantarias e os azulejos históricos estão constantemente em perigo. O grande número de visitantes traz riscos de vandalismo e tensão para as estruturas frágeis. Desde a aquisição pelo Estado em 1991 e o protocolo de restauro de 2017, equipas multidisciplinares têm colaborado para estabilizar a alvenaria, reparar os azulejos e gerir a paisagem envolvente tanto para a biodiversidade como para a proteção do património. O atual encerramento do local é um testemunho da conservação em curso, enfatizando que a visitação sustentável é vital para a sobrevivência de tais lugares espirituais e culturais únicos.
Significado Comparativo
Dentro da constelação de locais históricos de Sintra, a Peninha é distinta. Enquanto o vizinho Convento dos Capuchos se concentrava na austeridade franciscana, a Peninha tornou-se um centro de festividades comunitárias e devoção mariana—a sua decoração ornamentada contrastando com as humildes celas revestidas de cortiça dos Capuchos. Quando comparada com outros santuários de montanha portugueses, a Peninha destaca-se pela sua escala modesta, ressonância local e mistura de camadas medievais, barrocas e românticas. Ela encapsula a evolução de Portugal da religiosidade feudal à gestão moderna do património tangível e intangível, servindo como uma pedra de toque para a identidade comunitária e uma sala de aula viva para a interpretação da história nacional.